sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Palestra da Dra. RAQUEL MONTI SABAINI - Analista Ambiental do IBAMA

Nossas observações:
A Dra. Raquel apresentou palestra mostrando irregularidades encontradas pelos fiscais do IBAMA.
Fez referência ao significativo crescimento do número de criadores cadastrados no SISPASS, o que demonstra um grande ganho na migração de criadores que estavam na clandestinidade e buscaram o seu enquadramento na legalidade.
Apresentou várias imagens de pássaros com anilhas adulteradas, muitos dos quais com lesões nos tarsos, evidenciando que foram anilhados depois de adultos.
Mostrou, também, algumas imagens de artefatos empregados por traficantes para a adulteração de anilhas de alumínio.
Mais tarde, na continuidade dos trabalhos, foi dada a palavra ao Sr. ALEXANDRE GALLARO – Anilhas CAPRI, soluções em identificação para animais. Ele informou aos presentes que ao longo dos últimos anos sua empresa apresentou ao IBAMA várias propostas de confecção de anilhas com materiais de melhor qualidade que tornariam as anilhas invioláveis e que, se tivessem sido adotadas, teriam evitado a maioria das ocorrências mostradas na palestra.
Em diversas oportunidades os criadores solicitaram ao IBAMA que fossem adotadas as anilhas confeccionadas em aço inoxidável, que evitariam adulterações e identificação fraudulenta de pássaros capturados na Natureza.
Com a adoção de anilhas de aço inoxidável, não veremos mais essas imagens.
A Dra. Raquel apresentou alguns slides, mostrando as espécies mais reproduzidas em ambiente doméstico e as mais apreendidas pelas fiscalizações do IBAMA. Buscou demonstrar que a reprodução em ambiente doméstico não reduz a pressão de captura sobre a natureza.
Em primeiro lugar, nos parece óbvio que as espécies que despertam mais interesse dos criadores também despertem mais interesse dos traficantes. Isso se dá pelas características das espécies, com melhor canto e maior aptidão
para as disputas de fibra, sem outra relação entre a reprodução em ambiente doméstico e o tráfico que não seja a concorrência para o atendimento da mesma demanda. Sobre a reprodução em ambiente doméstico colaborar para a redução da pressão de captura sobre os espécimes de vida livre, nada mais deveria ser dito. É uma evidência comprovada por vários estudos, que consta, inclusive, nos principais documentos que norteiam a gestão dos recursos faunísticos em âmbito mundial, como a Agenda 21 e o Protocolo de Kyoto.
Sobre esse paralelo mostrado pela Dra. Raquel, entre as espécies mais reproduzidas em ambiente doméstico e as mais traficadas, encontramos outra inconsistência que nos salta aos olhos. Embora a espécie mais traficada e, por consequência, mais presente nas apreensões do IBAMA seja o canário-da-terra, não é possível estabelecer nenhuma relação entre a criação em ambiente doméstico, registrada no SISPASS e o tráfico. Os canários-da-terra traficados se destinam às famigeradas rinhas onde, para brigar, o pássaro não pode ter anilha de identificação. A maior parte das apreensões é de canários contrabandeados do Peru, da Colômbia e da Venezuela, que são sicalis valida e não sicalis flaveola como os nativos do Brasil. Esses canários despertam interesse dos criminosos por serem de porte avantajado e possuírem bicos e unhas maiores, o que permite melhor desempenho nas brigas. Não possuem canto de qualidade nem aptidão para os torneios de fibra, portanto não interessam aos criadores da espécie. Cabe ressaltar que, por desconhecimento dessas diferenças, muitos canários exóticos já foram soltos após terem sido apreendidos pela fiscalização, fazendo com que em determinadas regiões não se encontre mais, em vida livre, canários que não sejam mestiçados com os invasores.
Na observação dos slides apresentados na palestra da Dra. Raquel, podemos comprovar como as estatísticas podem estar distantes da realidade.
No slide que trata das espécies mais criadas em ambiente doméstico, a terceira espécie mais criada é o trinca-ferro-verdadeiro, com 15 % dos registros, enquanto os bicudos correspondem a apenas 5 % do total. Como a própria palestrante afirmou, os bicudos estão praticamente extintos na natureza. Mas sua reprodução em ambiente doméstico está muito desenvolvida e é dominada pela maioria dos criadores. Já o trinca-ferro-verdadeiro, ainda abundante na Natureza, não está com o seu manejo reprodutivo em ambiente doméstico totalmente desenvolvido, sendo poucos os criadores que obtêm grande produção de filhotes. Os trinca-ferro-verdadeiros têm sido as maiores vítimas da adulteração das anilhas de alumínio distribuídas pelo IBAMA aos criadores amadoristas.
O gráfico apresentado está completamente fora da realidade. Com a adoção de anilhas de aço inoxidável, essa vulnerabilidade do controle da atividade será corrigida.
A Dra. Raquel ainda fez referências a ilícitos tributários e a estimativa de valores monetários associados a transferências de pássaros entre criadores. Mas esse assunto foge ao escopo da preocupação preservacionista.
Brasília, Distrito Federal, 15 de agosto de 2011.


Fonte: www.cpu.org.br

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